domingo, 29 de maio de 2016

Um estranho sonho erótico


"Essa crônica foi totalmente inspirada nos poemas do livro 'Amor Natural' de Carlos Drummond de Andrade."

Ontem, eu tive um sonho erótico, mas não foi um sonho qualquer, esse foi especial. Pode parecer estranho, pois foi repleto de poesia. Eu sei, você vai dizer: “meu amigo tesão não combina com poesia”. Quem disse!? Poesia é melhor forma de descrever o sexo. E a única forma de entender o que dizem os urros e sussurros, de decifrar os enigmas dos orgasmos e de também nos levar ao êxtase.
O meu sonho era um mergulho nos versos de “Amor Natural” de Drummond. Era como se ele fosse em seus versos, me mostrando os mistérios e prazeres que só o sexo pode nos proporcionar. Sexo, essa força misteriosa que nos arrasta em busca do outro. O sexo mata o egoísmo, pois precisamos de outra pessoa, de outro corpo. Eu sei, é possível fazer sexo sozinho, mas não é a mesma coisa. Como diz Rita Lee, “sexo é dois”. É um corpo buscando outro corpo, são as mãos buscando os peitos e esquecendo o coração, são as línguas deslizando pelos corpos trêmulos de prazer, é o finito se perdendo no infinito.
Sim, mas onde entra Drummond nessa história? Calma, ele já está aqui. Pois foi justamente com ele que eu aprendi que “o corpo noutro corpo entrelaçado, fundido, dissolvido, volta à origem dos seres, que Platão viu completados: é um, perfeito em dois; são dois em um”. E essa magia só sexo consegue, essa união dos diferentes, esse calar de bobagem, de discussões imbecis que não levam a nada. Na hora do sexo, ninguém quer ter razão, todos queremos tesão, prazer e gozo. Como diz o poeta: “quantas vezes morremos um no outro, no úmido subterrâneo da vagina, nessa morte mais suave do que o sono: a pausa dos sentidos, satisfeita”. Ah! O sexo... bendito seja, força maior que há em nós, maior que nós. Quantas loucuras fazemos, a quantas coisas nos submetemos por ele.
Nesse sonho, os versos de Drummond me conduziam, mas erámos só eu, você e o universo. Mas o universo, coitado, pouco importava, erámos nós! Eu sei que “o que se passa na cama é segredo de quem ama”, mas peço licença para contar. Até por que não começávamos na cama, seguindo os versos descobríamos que “o chão é a cama do amor urgente”, “sobre o tapete ou duro piso”, nos entregávamos aos desejos do momento, deixávamo-nos levar pela força animal que habita nossos corpos. Desprezávamos, novamente, a cama. E “sob o chuveiro amar, sabão e beijos, ou na banheira amar, de água vestidos, amor escorregante”. Mas nem a água arrefecia o calor dos nossos corpos. “Os dois nos movíamos possuídos, trespassados”, com ou sem ritmo, pouco importava, seguíamos guiados pelos próprios gemidos e sussurros. Puro tesão a nos conduzir pelos caminhos do prazer.
O que dizíamos um ao outro... nada! Seguíamos o poema “A língua lambe”, que diz que “quanto mais lambente, mais ativa, atinge o céu do céu, entre gemidos”.  Realmente, Drummond, parecíamos, entre balidos e rugidos, leões na floresta, completamente enfurecidos de desejo. Um desvendando o corpo do outro pelo tato e pelo deslizar de línguas enlouquecidas. Prazeres exclusivos sexo, puro êxtase. Eu me perdendo dentro de você, penetrando sua alma através dos mistérios do seu corpo. Meu corpo e seu corpo em um vai e vem frenético em busca do infinito, “já sei a eternidade: é puro orgasmo ”. Único momento realmente além do espaço e do tempo. E o nosso foi um orgasmo quase utópico, eu e você ao mesmo tempo, descobrindo o infinito, mergulhando no cosmos de nós mesmo.
Ainda bem que o sonho não terminou no orgasmo. Drummond, em seus versos, deixa claro que “mulher andando nua pela casa envolve a gente de tamanha paz”. Mas minha maior fantasia era te ver pelo meio da casa apenas com minha camisa, como se meu corpo continuasse envolvendo o teu, como se estivéssemos fundidos um no outro. Quando te vi com minha camisa preta... Essa visão paradisíaca, você com minha camisa, me fez, em profunda paz, adormecer, isso lá no mundo dos sonhos. Por aqui, infelizmente, eu acordava, só com a lembrança desse estranho sonho erótico.
 José Antonio Ferreira da Silva

sábado, 28 de maio de 2016

Tormentos



Em minha cabeça,
Ansiedade e tormento,
O que faço aqui?
Cobranças roubam-me a alegria de viver.
Exijo-me uma genialidade que não possuo,
Cobro-me:
Uma luz que ainda não tenho.

Na minha cabeça,
Ansiedade e tormento,
Quem sou eu?
Nostalgias tiram-me a alegria de viver.
Mas..., de onde vem... Qual a causa...
Cadê o sorriso no espelho,
Se não vejo razão para lágrimas.

Na minha cabeça,
Ansiedade e tormento,
Quem são vocês?
A solidão tira-me a alegria de viver.
Sinto falta dos meus, onde estão?
Serei alienígena, exilado ou o quê?
Sinto-me um estranho.

Na minha cabeça,
Ansiedade e tormento,
Quero voltar!
A Saudade tira-me a alegria de viver.
Já não aguento mais isso aqui,
Desejo voltar, pra onde? Não sei...
Mas, aqui não dar...

José Antonio Ferreira da Silva
26/05/2012

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Onde está você?

Olhando-me no espelho
Vejo que o tempo passou
Criando um abismo entre o ontem e o hoje
Não me permitindo nem lembranças
Minha mente não consegue recordar
Recordar o que poderia ter sido, mas não foi...
Que sentimento é esse que me atormenta
Minha alma solta um grito mudo
Onde está você, em que vida te perdi?
Olho para trás, meu olhar se perde
Não consigo enxergar com nitidez
O tempo passa e o espaço aumenta.
Não consigo vê teu rosto, teu olhar
Onde nos perdemos, o que aconteceu
Minha alma sente falta, mas não sabe precisar
Quem éramos, onde estávamos
Minha alma solta um grito mudo
Onde está você, em que vida te perdi?
Olho em volta, mesmo com o olhar turvo
Sei que não estás nas caras que vejo
Não sinto tua presença, teu olhar, tua luz
Não posso explicar como, simplesmente sinto.
Como dói saber que hoje não estás aqui
Há um abismo, espaço e tempo, entre nós
Não te vejo no presente, estarás no futuro...
Minha alma solta um grito mudo
Onde está você, em que vida te perdi?
Olho para frente, meu olhar se perde
Tento nos ver no futuro
Será possível ver o amanhã?
Acredito que não, isso me esmaga a alma
Sinto a dor da incerteza, ou será da certeza...
Certeza, que não irei encontrar-te no futuro
Pelo menos enquanto no presente, não resolver o passado
Minha alma solta um grito mudo
Onde está você, em que vida te perdi?
José Antonio Ferreira da Silva
26/05/2012

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Esperando por mim



“A confusão e a insegurança de quem não se sente confortável quando está só, se transforma numa grande nuvem carregada de carência, pronta para estourar. E quanta bobagem não se faz neste estado?”
         
      Um dos meus ídolos, o grande Renato Russo, disse em uma de suas músicas: “Digam o que disserem, o mal do século é a solidão, cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição”. Sempre achei uma afirmativa intrigante, apesar de verdadeira. Nas nossas relações pessoais e, até profissionais, vivemos “blindados” de orgulho e arrogância. A música de Renato foi quase uma profecia, vejo que nós, desde muito tempo, caminhamos para transformar o mundo em um grande corredor, com várias portas fechadas; onde optamos por nos recolher e esperamos, ilusoriamente, que alguém entre ali e acabe com nossa angústia.

      Nessa “guerra fria”, vivemos um verdadeiro paradoxo: Queremos atenção, mas vivemos isolados; queremos demonstrações de afeto, mas construímos em volta de nós, uma grande barreira com nosso maldito orgulho. O psicólogo e escritor, Luiz Gasparetto, diz que “A vida lhe trata como você se trata. Os outros lhe tratam como você se trata”. É uma das afirmativas mais verdadeiras que já li, e é um processo muito parecido com o que nós, do Marketing, chamamos de posicionamento de marca, quando uma empresa, através de algumas ações estratégicas, define como quer que seu produto seja visto pelos consumidores e concorrentes. 

       No mercado e na vida, a fórmula é simples, os outros nos veem do jeito que nós nos vemos. Se eu me vejo como rejeitado ou injustiçado, a tendência é que isso me aconteça muitas vezes. Se eu sou uma pessoa confiante e positiva, a vida deve me apresentar sempre mais soluções do que problemas. 

      Tudo isso raramente funciona na “vida real”, estamos acostumados a caminhar na direção do outro e não na nossa; esperamos e acreditamos que outra pessoa irá resolver nossa confusão interior. Se outra pessoa está num momento difícil, logo oferecemos apoio e atenção, mas não conseguimos fazer o mesmo com a gente, pelo contrário, nos preocupamos demais, cobramos demais, exigimos e extraímos muito de nós, sem que façamos uma reposição da nossa energia. Buscamos ativamente essa compensação, na atenção e no apoio de outras pessoas, esperamos que o outro nos entenda, quando normalmente nem nós conseguimos tal proeza.

      Outro dia, li em uma dessas postagens que se espalham no Facebook, um texto muito interessante, que trata sobre os “Viciados em companhia”. Em uma de suas frases mais impactantes, o autor desconhecido diz: “Não confio no amor de quem não consegue ficar sozinho”. É uma frase dura, contudo, nos mostra uma verdade que nem sempre queremos ou conseguimos enxergar: A falta que sentimos de nós mesmos.

      A confusão e a insegurança de quem não se sente confortável quando está só, se transforma numa grande nuvem carregada de carência, pronta para estourar. E quanta bobagem não se faz neste estado? Entendo que é até pior que embriaguez... A carência veste uma máscara, que nos faz crer o que não existe, enxergar beleza onde não há e confundir, ainda mais, os nossos sentimentos.  Aconteceu um caso curioso com um amigo recém separado, que depois de algumas conversas e confidências com uma colega de trabalho, confundiu os sentimentos e enxergou paixão onde não havia. A carência o levou a se declarar todo para a moça, que, num nível absurdo de perplexidade e constrangimento, só conseguiu dar a resposta típica: “Sinto por você apenas amizade.”. O sujeito estava carente, a moça estava receptiva e simpática: Os ingredientes ideais para um perfeito mal entendido.

      Com a transitoriedade dos relacionamentos afetivos, criou-se uma cultura de que “um amor cura o outro”, particularmente, acho isso uma grande balela. Não acho possível que alguém ainda marcado e envolvido com a história anterior, esteja pronto para iniciar uma nova. Não acho honesto, nem justo, envolver uma pessoa nova num “mar de incertezas”. O mestre Cartola escreveu, em uma de suas canções geniais, versos que me parecem ser o mais adequado a se fazer, antes de iniciar um novo ciclo: “Deixe-me ir, preciso andar. Vou por aí a procurar, rir pra não chorar. Se alguém por mim perguntar, diga que eu só vou voltar, depois que me encontrar.”. 

      Há de se ter cuidado com as emoções e com os sentimentos alheios. A música sugere algo que eu acho essencial: Encontrar-se, antes de encontrar alguém. Conseguir se sentir bem e em paz, estando na própria companhia. Quem vive numa busca constante, é porque nunca olhou bem para si. Devemos estar completos, cheios não só de desejo pelo novo, mas de satisfação por quem somos. 


                               Allan Kemps Pontes Ferreira