“A confusão e
a insegurança de quem não se sente confortável quando está só, se transforma
numa grande nuvem carregada de carência, pronta para estourar. E quanta bobagem
não se faz neste estado?”
Um dos meus ídolos, o grande Renato Russo, disse em uma de
suas músicas: “Digam o que disserem, o mal do século é a solidão, cada um de
nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição”.
Sempre achei uma afirmativa intrigante, apesar de verdadeira. Nas nossas
relações pessoais e, até profissionais, vivemos “blindados” de orgulho e
arrogância. A música de Renato foi quase uma profecia, vejo que nós, desde
muito tempo, caminhamos para transformar o mundo em um grande corredor, com
várias portas fechadas; onde optamos por nos recolher e esperamos,
ilusoriamente, que alguém entre ali e acabe com nossa angústia.
Nessa “guerra fria”, vivemos um verdadeiro paradoxo: Queremos
atenção, mas vivemos isolados; queremos demonstrações de afeto, mas construímos
em volta de nós, uma grande barreira com nosso maldito orgulho. O psicólogo e
escritor, Luiz Gasparetto, diz que “A vida lhe trata como você se trata. Os
outros lhe tratam como você se trata”. É uma das afirmativas mais verdadeiras
que já li, e é um processo muito parecido com o que nós, do Marketing, chamamos
de posicionamento de marca, quando uma empresa, através de algumas ações
estratégicas, define como quer que seu produto seja visto pelos consumidores e
concorrentes.
No mercado e na vida, a fórmula é simples, os outros nos veem
do jeito que nós nos vemos. Se eu me vejo como rejeitado ou injustiçado, a
tendência é que isso me aconteça muitas vezes. Se eu sou uma pessoa confiante e
positiva, a vida deve me apresentar sempre mais soluções do que problemas.
Tudo isso raramente funciona na “vida real”, estamos
acostumados a caminhar na direção do outro e não na nossa; esperamos e
acreditamos que outra pessoa irá resolver nossa confusão interior. Se outra
pessoa está num momento difícil, logo oferecemos apoio e atenção, mas não
conseguimos fazer o mesmo com a gente, pelo contrário, nos preocupamos demais,
cobramos demais, exigimos e extraímos muito de nós, sem que façamos uma
reposição da nossa energia. Buscamos ativamente essa compensação, na atenção e
no apoio de outras pessoas, esperamos que o outro nos entenda, quando
normalmente nem nós conseguimos tal proeza.
Outro dia, li em uma dessas postagens que se espalham no
Facebook, um texto muito interessante, que trata sobre os “Viciados em
companhia”. Em uma de suas frases mais impactantes, o autor desconhecido diz:
“Não confio no amor de quem não consegue ficar sozinho”. É uma frase dura,
contudo, nos mostra uma verdade que nem sempre queremos ou conseguimos
enxergar: A falta que sentimos de nós mesmos.
A confusão e a insegurança de quem não se sente confortável
quando está só, se transforma numa grande nuvem carregada de carência, pronta
para estourar. E quanta bobagem não se faz neste estado? Entendo que é até pior
que embriaguez... A carência veste uma máscara, que nos faz crer o que não existe,
enxergar beleza onde não há e confundir, ainda mais, os nossos sentimentos. Aconteceu um caso curioso com um amigo recém
separado, que depois de algumas conversas e confidências com uma colega de trabalho,
confundiu os sentimentos e enxergou paixão onde não havia. A carência o levou a
se declarar todo para a moça, que, num nível absurdo de perplexidade e
constrangimento, só conseguiu dar a resposta típica: “Sinto por você apenas
amizade.”. O sujeito estava carente, a moça estava receptiva e simpática: Os
ingredientes ideais para um perfeito mal entendido.
Com a transitoriedade dos relacionamentos afetivos, criou-se
uma cultura de que “um amor cura o outro”, particularmente, acho isso uma
grande balela. Não acho possível que alguém ainda marcado e envolvido com a
história anterior, esteja pronto para iniciar uma nova. Não acho honesto, nem
justo, envolver uma pessoa nova num “mar de incertezas”. O mestre Cartola
escreveu, em uma de suas canções geniais, versos que me parecem ser o mais
adequado a se fazer, antes de iniciar um novo ciclo: “Deixe-me ir, preciso
andar. Vou por aí a procurar, rir pra não chorar. Se alguém por mim perguntar,
diga que eu só vou voltar, depois que me encontrar.”.
Há de se ter cuidado com as emoções e
com os sentimentos alheios. A música sugere algo que eu acho essencial:
Encontrar-se, antes de encontrar alguém. Conseguir se sentir bem e em paz,
estando na própria companhia. Quem vive numa busca constante, é porque nunca olhou
bem para si. Devemos estar completos, cheios não só de desejo pelo novo, mas de
satisfação por quem somos.
Allan
Kemps Pontes Ferreira
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